Contexto histórico do barroco-século XVII-Instaura-se na arte um conflito fundamental entre os prazeres corpóreos e as exigências da alma,há o conflito entre as idéias da idade média no século XV e o renascimento-século XVI,o teocentristo e o antropocentrismo,a fé,o espírito e a razão,a contrarreforma e a reforma,a conquista espiritual e a conquista material.
Características:
os autores mais importantes com certeza foram Gregório de Matos e Pe.Antônio Viera,é caracterizada pela dualidade,atítese e o paradoxo,há também a arte rebuscada,presença marcante de figuras de linguagem e oposição de ideias.
Grégorio de Matos:
poema 1-
Pequei, Senhor; mas não por que hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido:
Porque, quanto mais tenho delinqüido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado
Se uma ovelha perdida, e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história:
Eu sou, Senhor, ovelha desgarrada;
Cobrai-a ; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
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poema 2-
Neste mundo é mais rico o que mais rapa: quem mais limpo se faz, tem mais carepa;
Com sua língua, ao nobre o vil decepa.
O velhaco maior sempre tem capa.
Mostra o patife da nobreza o mapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.
A flor baixa se inculca por tulipa;
Bengala hoje na mão, ontem garlopa:
Mais isento se mostra o que mais chupa.
Para a tropa do trapo vazo a tripa,
E mais não digo, porque a Musa topa
Em apa, epa, ipa, opa, upa.
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poema 3-
Ardor em firme Coração nascido;
pranto por belos olhos derramado;
incêndio em mares de água disfarçado;
rio de neve em fogo convertido:
tu, que em um peito abrasas escondido;
tu, que em um rosto corres desatado;
quando fogo, em cristais aprisionado;
quando cristal, em chamas derretido.
Se és fogo, como passas brandamente,
se és neve, como queimas com porfia?
Mas ai, que andou Amor em ti prudente!
Pois, para temperar a tirania,
como quis que aqui fosse a neve ardente,
permitiu parecesse a chama fria.
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poema 4-
É a vaidade, Fábio, nesta vida,
Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
É planta, que de abril favorecida,Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada,
Airosa rompe, arrasta presumida.
Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada,
Sulca ufana, navega destemida.
É nau enfim, que em breve ligeireza
Com presunção de Fênix generosa,
Galhardias apresta, alentos preza:
Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa
De que importa, se aguarda sem defesa
Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?
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poema 5-
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.
Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.
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poema 6-
O todo sem a parte
não é todo,
A parte sem o todo
não é parte,
Mas se a parte o
faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é
parte, sendo todo.
Em todo o
Sacramento está Deus todo,
E todo assiste
inteiro em qualquer parte,
E feito em partes
todo em toda a parte,
Em qualquer parte
sempre fica o todo.
O braço de Jesus
não seja parte,
Pois que feito
Jesus em partes todo,
Assiste cada parte
em sua parte.
Não se sabendo
parte deste todo,
Um braço, que lhe
acharam, sendo parte,
Nos disse as partes
todas deste todo.
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